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O poder do Sound System na Bahia

  • Lorena Sampaio e Marcus Rodrigues
  • 26 de out. de 2017
  • 6 min de leitura

Foto: Marcus Rodrigues

O sound system, sistema de som, é uma festa de movimentação popular composta basicamente por seletores de música (comandam o toca-discos), Djs (comandam o microfone), operadores de som e principalmente as caixas de som empilhadas.


O movimento iniciou-se na Jamaica e, no Brasil, o Maranhão foi o primeiro estado brasileiro a abraçar essa cultura que tinha como um dos estilos musicais mais tocados o reggae. Tanto esse ritmo musical quanto outros como Blues, Jazz e R&B se fazem- presente no sound system, além das batalhas entre DJs que é uma disputa para ver quem propaga o som mais alto, da melhor qualidade e, claro, de qual deles o público gostará mais.


Para conhecer mais sobre esse movimento e como ele tem se propagado no Brasil, Jovens Redatores conversou com o Dj Pureza, integrante do Ministereo Público Sistema de Som, e com Russo Passapusso vocalista da banda Baiana System.


Entrevista com Dj Pureza

Dj Pureza

Foto: Acervo pessoal do artista

JR: Para você, como surgiu o sound system?

Pureza: Ele surgiu na Jamaica na década de 50, 60 que era como as gravadoras faziam para divulgar suas músicas. Então alguns produtores dessas gravadoras colocavam as caixas de som e montavam os sound systems, sistemas de som, e tocavam suas produções nas ruas. Dessa forma, os americanos conheceram, os londrinos também e ao difundir para seus países essa cultura ganhou a proporção de hoje. O nosso grupo Ministereo, por exemplo, surgiu de um grupo de amigos que colecionava discos e tinha suas caixas de som em casa e Regivan, nosso Dub Master, que já tinha contato com pessoas do ramo musical nos ajudou a propagar nosso som. Depois começamos a pesquisar um pouco mais sobre música, e aí nós entendemos que o estilo musical que estávamos tocando era o sound system.


JR: Como é a receptividade das pessoas em relação a esse estilo?

Pureza: Em Salvador é muito bom, já que aqui nós temos o reggae como um estilo de raiz que se juntou com o samba e deu origem ao samba reggae como temos o grupo Olodum. O reggae e o samba no Brasil, principalmente no nordeste são ritmos muito fortes, mas no começo, a assimilação do público não foi fácil até porque eles não conheciam o sound system.


JR: Vimos que vocês já passaram por diversas cidades do interior do Estado. Você acha que a receptividade desse estilo é maior lá do que aqui?

Pureza: Sim, no interior ritmos como o reggae estão mais presentes do que na capital porque por ser uma cidade de atração turística então recebe muita informação, ou seja, ao mesmo tempo que a gente ganha muita coisa também se perde. Já no interior, eles ainda são mais tradicionais e prezam o samba de raiz.


JR: Em quais espaços vocês propagam esse som?

Pureza: Fizemos uma temporada do “Quintas Dance Hall” que é um trabalho que fazemos há oito anos e é um baile dançante voltado para a discoteca, mas o som do Ministereo propaga-se nas ruas porque o sound system está em contato com as ruas. Não dá para montar um sound system em uma casa de shows, aliás dá, só que não é mesma coisa que tocar nas ruas, já que como não tem palco e os seletores e as caixas de som ficam no chão isso cria uma proximidade maior com o público.


JR: Vocês têm o objetivo de tornar a cultura do sound system mais conhecida em Salvador?

Pureza: Estamos há quinze anos com o grupo do Ministereo Público na resistência. Nós fazemos nosso som mais pelo amor do que pela divulgação em si, mas espero que surjam cada vez mais grupos de sound systems.


JR: Vimos que vocês aliam o seu trabalho a projetos sociais como o Mutirão Mete Mão. Me fale um pouco mais sobre ele?

Pureza: Esse mutirão surgiu também de um projeto de amigos com outros amigos grafiteiros. Então decidimos fazer um som nas ruas das comunidades e, muitas vezes, eles recebiam a gente com feijoada. Normalmente a gente chegava pela manhã para montar as caixas de som e os grafiteiros já começavam a colorir as ruas, os muros das casas com a autorização dos donos e então vinham artistas dos bairros, crianças.

Foi um projeto que surgiu de forma independente e ficamos quase dois anos com ele, tirando do nosso bolso e pagando carreto para as tintas. Só depois que tivemos ajuda e aí conseguimos fazer em outras cidades.


JR: Qual a função de cada membro da equipe de som Ministereo Público?

Pureza: Eu sou Dj, aí tem Regivan que é técnico de som e no mundo do sound system é o Dub Master. Ele além de equalizar também coloca efeitos no que os Djs estão tocando e Raiz que também é Dj. Então nós somos dois DJs e um técnico de som e de vez em quando nós convidamos tostares para tocar com a gente que são os MCs.


JR: O que diferencia a equipe de som de vocês de outras que também propagam a cultura do sound system?

Pureza: No geral, não há tantas diferenças, mas a gente tenta dar destaque as músicas que escutamos desde criança como o samba, samba reggae, ou seja, a gente tenta fusionar as nossas raízes com a música jamaicana.


JR: Vocês começaram tocando reggae?

Pureza: Não. Começamos tocando música brasileira, black music e soul music e depois que fomos fusionando com o reggae.


JR: Quais os equipamentos necessários para montar o sound system?

Pureza: Basicamente as caixas de som, toca discos já que é uma cultura muito voltada para o vinil, periféricos de efeito, sirenes, mas aí já é algo particular de cada equipe de som.


JR: Para você, qual o público que consome essa cultura do sound system?

Pureza: A galera do reggae, o povão e a galera mais alternativa.




Entrevista com Russo Passapusso

Russo Passapusso

Foto: Acervo pessoal do artista


JR: Me fale um pouco do sound system e em como esse movimento te representa

Russo: O sound system é a simbiose do que a gente vem prologando com samba reggae. É a cultura do reggae com o samba misturado e a gente sempre teve cultura de som na Bahia, o próprio trio elétrico e as festas de largo são isso. Então, vem de um costume da música jamaicana e que a música baiana também tem, o Maranhão também com as festas de aparelhagem, radiolas tudo isso faz parte dessa cultura. É uma galera que junta o dinheiro próprio para comprar a caixa de som, faz o som para as comunidades, no dia das crianças e em certos movimentos. Isso é o som sem pretensão que a gente faz por amor.


JR: Como esse estilo ajuda no processo de representatividade do jovem baiano?

Russo: Ajuda através da liberdade de exposição, de composição, de pensamento, ou seja, tudo que se relaciona com o coletivo e com certeza há uma relação com a diáspora também. A música negra, africana, jamaicana que mistura tão fácil com a simbiose e o sincretismo musical que a gente tem.


JR: Você nasceu e passou boa parte da sua infância e adolescência no interior do Estado. Você percebia que nas festas de largo de lá a presença do sound system?

Russo: Com certeza. Principalmente pela cultura do São João que as pessoas colocavam sons em cima de uma carroça e saia todo mundo atrás ouvindo. Na época o som era o “Piti Piti”, então as manifestações que vieram para a capital e entraram nessa mistura que virou o Axé music, com certeza, tem muita influência da música do interior. O interior sobrevive. É como diz o poeta: “quem mora no interior vai buscar o interior, quem mora na capital vai buscar a capital”. Eu acredito muito na música do interior e acredito que isso é a argamassa da nossa música.


JR: Qual a importância desse estilo na sua formação artística?

Russo: Total. A importância é predominante, eu venho disso. Assim como pessoas que fazem samba têm escolas de samba, minha escola é o sound system que isso é o amor de pessoas que juntaram o dinheiro para comprar uma caixa e tocar no gueto.

Os caras têm quinze anos fazendo isso, muita gente já se foi, muita gente já se feriu, muita já nasceu também- graças a Deus- e muitas já passaram por situações adversas e isso não fez com que a gente deixasse de ter esse amor de fazer o som ou de comprar uma caixa de som.


JR: Esse estilo ajudou na construção da identidade da banda baiana system?

Russo: Com certeza. O conceito sound system irradiou em tudo.

Antes era o formato da música rock and roll dos Beatles e tudo mais, depois a Jamaica foi e ditou ali, Bob Marley, com certeza, o rei dessa coisa toda e os outros insistem em estar pegando para mostrar que tem diversidade na história e que a gente sempre possa ter diversidade na música baiana e pela educação sempre.

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