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Um mundo silenciosamente barulhento dentro de si

  • Brenda Vianna
  • 15 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Há quem diga que um mundo sem o barulho dos carros, construções, choro de neném seria melhor, mas existem pessoas que pagariam para ouvir esses sons pelo menos uma vez na vida ou ouvir mais vezes.

Nesse último, as pessoas têm a deficiência auditiva, a chamada DA. Elas são parcialmente surdas, ou seja, conseguem ouvir, mas com a ajuda de aparelho. Nesse caso, as pessoas com surdez leve conseguem ouvir, onde a perda auditiva é de até 40 decibéis. A voz ouvida fica fraca ou distante, impossibilitando de ser escutada. O individuo é considerado desatento pelas pessoas próximas. Já a pessoa com surdez moderada apresenta perda entre 40 e 70 decibéis. Nesse estágio tende a ouvir bem pouco, e quem conversa com o deficiente tem que elevar o tom de voz para ser compreendido. Há dificuldade na fala, necessitando observar o movimento dos lábios.


Já as pessoas que adorariam ouvir pelo menos uma vez, são surdas, ou seja, não ouvem absolutamente nada e também não falam, só se comunicam pela língua de sinais, a libra. Elas têm duas diferenciações: a pessoa com surdez profunda, que apresenta uma perda auditiva superior a 90 decibéis, elas não conseguem identificar a voz humana. Já a pessoa com surdez severa, na qual o indivíduo apresenta uma perda auditiva entre 70 e 90 decibéis, consegue identificar alguns ruídos familiares e pode perceber a voz forte.

É nessa etapa que a entrevistada Larissa da Silva Pinho está. Deficiente auditiva há 20 anos, ela conta que obteve a surdez após uma infecção hospitalar logo ao nascer. Ela também realizou a prova do Enem. O tema da redação surpreendeu não só as pessoas surdas e deficientes, como também os estudantes sem a doença.




Diário dos Redatores: Larissa, como que você perdeu a sua audição? Larissa Pinho: Após cinco dias de nascida, tive uma infecção hospitalar. A princípio, os médicos informaram aos meus pais que a sequela seria visão, eu não iria enxergar nada, mas perceberam que houve um engano e o resultado foi a perda auditiva. Há 20 anos eu tenho surdez severa, só ouço com o auxílio do aparelho.

DR: Foi difícil para você ter que conviver com a surdez na infância? Larissa Pinho: Sim, muito! Principalmente em relação aos meus pais. Eles sofriam, pois me viam falando, mas não entendiam o que eu queria falar. Por conta da surdez, minha pronuncia não era muito boa, eu não falava tão bem. Com isso, eu tentava procurar palavras para poder falar e não conseguia então eu gritava. Foi uma época bem assustadora para todo mundo. Minha mãe, com o tempo, foi conseguindo compreender o que eu queria falar. Foi difícil.


DR: E o seu aparelho, como foi que você conseguiu pela primeira vez?

Larissa Pinho: Em 2002, minha família comprou meu primeiro aparelho. Fui diagnosticada com surdez severa. O aparelho, na época, custava R$3.000,00. Meus pais fizeram um esforço e tanto para comprar. Depois disso, precisei trocar, mas meus pais não tinham mais condições. Fiquei um bom tempo sem o aparelho, faltei até o colégio. Após um tempo, retornei ao médico e eles informaram que na UNIME de Lauro de Freitas tinha algumas vagas para conseguir o meu segundo aparelho de graça. Me encaminharam para lá e passei por várias triagens. Fiquei mais um tempo sem o aparelho até ganhar. E estou assim desde então. Hoje em dia, o aparelho está por volta de R$8.000,00. Fica bastante inacessível para os deficientes auditivos e os surdos.

DR: Quanto tempo a pessoa pode ficar com o aparelho? Por exemplo, se a pessoa for criança, tem algum limite para ficar?

Larissa Pinho: Então, o limite máximo para cada pessoa é de cinco anos, depois disso é necessário a troca. Não existe diferença de criança para adulto. Mas é muito raro uma pessoa ficar com o aparelho por mais de cinco anos. Geralmente ele quebra antes ou por mau uso fica com defeito.


DR: Por conta da surdez, você sofreu bullying? Larissa Pinho: Ah, sempre sofri. Piadas de mau gosto, gente que não se aproximava de mim. Eles riam de mim, porque eu não conseguia falar direito. Tinha vergonha. (Larissa se emociona ao se lembrar do preconceito que passou na infância).


Larissa está estudando para entrar em uma universidade pública. No domingo (5), ela fez ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Ao se deparar com o tema da redação, teve uma surpresa.


DR: Como você reagiu ao abrir a prova e ver o tema da redação? Larissa Pinho: Foi uma surpresa para mim e para os candidatos que poucos não souberam o que falar sobre esse tema. Ele realmente é bastante complicado para quem não sabe e não entende a diferença entre o surdo e o deficiente auditivo. Foi bom, porque mostra ao mundo que há necessidade de melhorar as tecnologias, pois existem deficientes auditivos! Temos dificuldade de assistir TV, ouvir rádio... etc! Uma coisa que me deixaria feliz é se todos os canais de TV tivessem legendas certas. Eu era viciada em novelas, hoje tá difícil acompanhar.

Larissa convive há anos com a surdez. Sua vida é totalmente normal. Ela é independente e não precisa de ajuda de ninguém para seguir sua vida. Larissa é como eu, como você. Como diria Thomas Edison “A surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inúteis e me ensinou a ouvir a voz interior”.

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