Empoderamento crespo
- Carina Miranda e Rafael de Jesus
- 4 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
No próximo dia 18 de novembro vai acontecer no Campo Grande a III Marcha do Empoderamento Crespo em Salvador. A marcha tem com intuito incentivar a aceitação do cabelo como ele realmente é em um ato político de afirmação da luta por cidadania para negras e negros. O cabelo crespo que por muito tempo foi visto como feio, motivo de vergonha, alvo de preconceitos e chacotas. Nos dias atuais esse tipo de cabelo vem sendo ostentado nos seus mais variados cortes e cores nas cabeças daqueles que já se conscientizaram que o cabelo crespo também é bonito.

Para falar desse processo de aceitação e transição, entrevistamos Juliane Padilha que possui quase 6 mil seguidores no Instagram e faz parte do movimento no qual incentiva as mulheres a assumirem seus cachos com a hashtag #vamoscachearomundo.
Natural de Curitiba - PR, Juliane tem 39 anos, reside em Salvador desde 2010 e trabalha com *beleza, mais necessariamente com cabelos há 17 anos.
D.R.: Você já alisou o cabelo, se sim, por quanto tempo? E porque resolveu parar?
Alisei com amônia por 13 anos pois queria mudar o visual. Fazem três anos que abandonei o alisamento e entrei no processo de transição para recuperar meu cabelo natural. Vi a possibilidade de me libertar da "obrigação" de alisar a cada três meses, escovar a cada dois dias, não molhar o cabelo na praia ou piscina.
D.R.: Como foi sua experiência no processo de transição?
Foi muito difícil, a transição é um encontro com sua essência, quem você é, tipo "original de fábrica" (risos). Foram 8 meses só usando rabo de cavalo de manhã, tarde, noite, madrugada, fim de semana e feriado. Quando cortei não me sentia bonita então usei alongamento um período até meu cabelo ter um comprimento que me sentisse bem. Mas não me arrependo, sabia das dificuldades e resolvi enfrenta-las, se fosse necessário faria novamente.
D.R.: Como foi que você se sentiu quando percebeu que seu cabelo já estava totalmente cacheado? Qual sua reação a isso?
É uma reação maravilhosa um misto de libertação, reconhecimento, vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, uma insegurança de como cuidar deles e a sensação de vitória, "consegui superar";. Sempre falo, a menina que supera a transição supera qualquer problema na vida (risos).
D.R.: Dá muito trabalho manter seus cachos?
No início sim, era uma relação complicada eu não entendia eles, tudo era novidade, mas com o tempo fui redescobrindo meu cabelo, os diferentes tipos de cachos dele, as necessidades e, principalmente, como arruma-los de forma que me agradasse. Hoje digo que é muito mais fácil cuidar do meu cabelo cacheado do que quando era liso.
D.R.: E as pessoas que você conhece que já passaram por esse processo, o que elas falam sobre isso?
É engraçado porque muitas meninas têm uma história bem parecida sofreram na infância, adolescência, não se sentiam aceitas, não tinham referências de bonecas, desenhos, mulheres importantes na família ouviram que seu cabelo era ruim, difícil, duro, feio. Hoje o cabelo cacheado não é moda é personalidade, identidade, representação da real beleza da menina que decidiu ser ela e não seguir um padrão para ser aceita.
D.R.: O que você acha da Marcha do Empoderamento Crespo?
Acho muito importante movimentos que incentivam as mulheres a se aceitarem e defenderem seus direitos.
D.R: Para finalizar você poderia deixar uma mensagem para quem deseja assumir seus cachos, mas tem medo do processo de transição?
Então, a transição é só um caminho para a descoberta do seu cabelo natural, é difícil sim, mas não impossível, tem muitos recursos para usar. Importante ter paciência, foco, determinação e a mulher brasileira é guerreira, não desiste já vem de outras batalhas a transição ela tira de letra.
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