A responsabilidade feminina com as tarefas domésticas e o trabalho remunerado
- Suzane Santos
- 3 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Nas últimas décadas do século XX, passaram a surgir grandes transformações quanto ao novo papel que as mulheres começaram a exercer como participante ativa de uma sociedade. A responsabilidade de cuidar da casa e da família impede muitas mulheres de trabalhar e, dessa forma, faz com que o trabalho doméstico não remunerado continue sendo o padrão predominante na sociedade brasileira.
Os dados do “Estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” aplicado pelo IPEA, mostra que as mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana, incluindo as tarefas da casa e com o trabalho remunerado. Com diversas funções, essas mulheres precisam também lidar com uma série de pressões psicológicas. Mesmo com a dupla jornada, elas vêm se empoderando e lutam por uma sociedade mais democrática, refletindo também na postura do homem perante o papel da mulher no âmbito familiar e profissional.
Para falar sobre este assunto, conversei com Marília Queiroz, ela que é técnica em Química e licenciada em Ciências Biológicas. Trabalha de carteira assinada desde os 19 anos, e atualmente exerce a função de Perita Criminal Oficial do Estado da Bahia, no departamento de Polícia Técnica em Salvador.
Sabemos que independente do gênero, pessoas com melhores qualificações têm mais chance de ser inserida no mercado de trabalho. É recorrente a presença das mulheres atuando como professoras, cabeleireiras,manicuras, funcionárias públicas ou que trabalham em serviços de saúde. “Acho que as mulheres cresceram muito no mercado de trabalho, ocupando espaços que há muito tempo era exclusivo dos homens, como motorista de ônibus e táxi, como gestoras em cargos do alto escalão, a exemplo da nossa secretária de cultura do estado recentemente nomeada pelo governador, Arany Santana”, explica Marília.
Desigualdade entre classes
A taxa de analfabetismo das mulheres negras chega a ser mais que o dobro das mulheres brancas. Apesar de mudanças significativas relativas ao aumento da renda da população, existe uma sobreposição de desigualdades com relação às mulheres brancas e as mulheres negras. Na hierarquia salarial, homens brancos e mulheres brancas têm prioridades e melhores garantias diante dos homens negros e mulheres negras.
“É bem claro esta desvantagem, veja no meio artístico, nos programas de TV, nas novelas, na profissão de modelo, se pode notar que a presença de mulheres brancas é bem maior que as negras ou afrodescendentes”, destaca Marília. Para ela, até mesmo na ficção as mulheres negras desempenham o papel de babás, empregadas domésticas e que moram em favelas.

De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) a diferença salarial entre homens e mulheres diminuiu 12,1 pontos percentuais entre 1990 e 2014, mas elas recebem em média, apenas 83,9 unidades monetárias por 100 unidades monetárias recebidas pelos homens. Ou seja, elas podem ganhar até 25,6% a menos do que os colegas que estão em condições semelhantes.
Para Marília Queiroz, apesar de tamanha evolução e com a independência conquistada, pensar que na atualidade a situação da mulher melhorou 100% é visto como um engano. Com excessos de atividades para dar conta, a saúde física e mental das mulheres acaba sendo prejudicada, levando-as a cansaço excessivo e estresses. “Acredito que a jornada de trabalho, associada aos cuidados da casa, educação dos filhos e devido ao grande número de famílias brasileiras serem formada por filhos e mãe, tem trazido mais enfermidades às mulheres, por exemplo”, diz.
População feminina lidera ranking

As mulheres representam maior parte da população nacional. Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2015, são quase 105 milhões de mulheres, enquanto aos homens somam 98,5 milhões. Elas passaram a viver mais, têm tido menos filhos e estão exercendo cargos de níveis altos dentro das empresas, ocupando cada vez mais o seu espaço profissionalmente. Também aumentou a presença das mulheres a concorrem cargos na política. Mas ainda assim, a participação feminina está abaixo dos 30% estipulado como número mínimo pela legislação eleitoral.
O destaque que a mulher apresenta hoje na sociedade é algo que está em construção. Elas mostram sua força e habilidade para resolver os problemas da mesma forma que os homens. “As mulheres têm capacidade de serem vistas em várias profissões, por características próprias do sexo feminino e por exercerem habilidades de grande dificuldade ao homem, em algumas profissões”, afirma.
Além da responsabilidade da casa e com a família, em alguns casos, as mulheres têm que se esforçar mais do que os homens para poder ter o seu trabalho devidamente reconhecido. E mesmo com grandes transformações, precisam lidar na atualidade com as diferenças salariais, seja pelo tom da sua pele ou entre os homens que ocupam o mesmo espaço profissional que elas. Resultado que é visto como uma sociedade ainda machista e conservadora.
Para desconstruir essa invisibilidade que cerca o trabalho feminino, Marília acredita que as mulheres que tiverem boas ocupações, precisam servir de exemplos para as outras. “Buscar crescimento, estudo, mais capacitação, para que os espaços conquistados sejam perenes”, conclui.
Fonte:
IBGE e CEPAL
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